Quando ir ao Psicólogo?


Ir ao psicólogo não é algo consensual, sendo uma necessidade ou mesmo quase uma “moda” para alguns; para outros, parece ser sentido como algo estranho e que só acontece aos outros, sobretudo a quem chamam de “maluco”. Infelizmente, nos dias de hoje, ainda prevalece um pouco esta ideia, aqui e ali, de um modo alargado, impossibilitando, muitas vezes, uma intervenção que se quer rápida e precoce junto de quem dela necessita. Esta intervenção deverá ser sobretudo preventiva, não devendo esperar que se verifique um dano ou que exista efetivamente um problema, de modo a encontrar padrões de atuação alternativos e mais funcionais.

Outro aspeto muito frequente e facilmente observável resultante de alguns anos de prática clínica, é a desresponsabilização associada por parte dos pais face aos problemas dos filhos quando solicitam a intervenção do técnico. Parecem acreditar que isso por si só constitui uma solução miraculosa para o problema, antes mesmo de tentarem compreender o que se passa com a criança ou com o jovem em questão, aspeto este que carece da atenção e intervenção de todos os implicados.

Ora para se compreender, é fundamental estar presente e conhecer o outro, isso implica necessariamente tempo e disponibilidade, sendo que, uma conversa, um passeio e até uma discussão, são situações que envolvem naturalmente tempo e dão “trabalho” a nível do foro emocional e afetivo. A maioria dos pais refere ter pouca disponibilidade perante as exigências da vida profissional, colidindo com o “corre-corre” excessivo do dia-a-dia, acabando por fazer com que as pessoas se encontrem, por vezes, mais desligadas dos seus “sentires” e mais voltadas para o “exterior”, delegando prioridades essencialmente nos aspetos laborais e materiais, deixando pouco tempo para outros aspetos tão ou mais importantes.

Contudo, nunca é demais referir que mais importante que a quantidade de tempo, será o tempo de qualidade que os pais passam com os filhos. Ressalvamos aqui a importância de estar atento ao que se passa com eles, fazendo, com certeza, significativa diferença pois não só permite uma intervenção mais adequada por parte dos adultos na tarefa educativa, como o seu filho se sente respeitado e “acarinhado” na sua individualidade.

Sem dúvida que, por vezes, um estado de grande tensão e já de algum desespero está subjacente a esta atitude de procurar um psicólogo, sendo inclusive verbalizado pelos pais: “Veja se faz alguma coisa dele, se o trata pois nós já não conseguimos fazer nada dele!”

Associada a esta afirmação vem a ideia de que o filho será o único envolvido no processo terapêutico. Na verdade, quando os adultos levam a criança a um psicólogo, também estes devem falar das suas dificuldades e envolver-se no processo. O adulto (educador) é que terá de assumir o papel principal, mesmo quando o que ele preferia era ser apenas figurante. Assim, naturalmente há mudanças a ser feitas para gerar então as mudanças desejadas para os filhos e num grupo, a mudança de um elemento implica a mudança de todos os outros de modo a conservar a harmonia e a dinâmica do todo.

Deverá recorrer a um psicólogo sempre que sinta essa necessidade contudo, sem esquecer que o papel do técnico é o de facilitador, orientador e que, complementarmente, o seu papel enquanto pai ou mãe será sempre o mais importante e por isso mesmo insubstituível.

Com bastante frequência, ao recorrer a essa ajuda especializada, muitos pais esperam que as coisas se resolvam magicamente, trazendo expetativas demasiado elevadas e pretendendo resultados superfluamente rápidos. Ainda que seja sabido que para todas as situações que envolvem pessoas, não existem receitas nem raciocínios matemáticos diretamente pautados pela lógica, é por isso necessário saber ouvir empaticamente a individualidade da pessoa em causa, devidamente contextualizada na sua própria dinâmica familiar, dando-lhe tempo e espaço de modo a que a pessoa em questão respeite o seu próprio ritmo na resolução de determinada questão.

Aqui ficam alguns exemplos elucidativos que poderão dar-nos uma indicação da necessidade de apoio psicológico:

- Sinais de tristeza/isolamento/depressão com duração superior a duas semanas;

-Existência de um comportamento disfuncional, num dos contextos onde a criança/jovem se movimenta. Por exemplo: se em casa está bem, mas na escola tem uma ansiedade intensa, deixando afetar o seu desempenho escolar e as suas relações interpessoais (e vice-versa);

- Sentimento de inquietação permanente e falta de estratégias para lidar com uma determinada situação, mesmo quando todos que o rodeiam afirmam que a situação é normal;

- A existência de comportamentos desviantes, como eventualmente, a agressividade ou o consumo de substâncias ilícitas ou mesmo perturbações do foro alimentar;

- Avaliação Psicológica;

- Orientação Vocacional/ Profissional;

Sobretudo, se já usou diferentes estratégias e não foi capaz de solucionar esse mal-estar que tanto o inquieta, então não hesite, procure mesmo ajuda.